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O Grande Experimento - Arte Russa 1863-1922, Camilla Gray, Worldwhitewall Editora Ltda, São Paulo, 2004


Arquitetura Construtivista - URSS 1917-1936. Vittorio De Feo. Worldwhitewall Editora Ltda, São Paulo, 2005

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INTRODUÇÃO

Ominosa constatação, como diria Hall, deparar-se 22 anos após a colação de grau, (que no meu caso específico não ocorreu; já que Antonio Salieri numa de suas inúmeras incorporações ousou sequestrar o parecer do seu superior, que estava ausente por motivos de saúde, reprovando a minha tese de graduação alguns dias antes da formatura; para o espanto e indignação dos colegas, dos meus pais, da minha namorada e colega de classe (ela também reprovada na ocasião) e do meu orientador Prof. Dr. Flávio L. Motta, instigante e carismático mestre, que no meio da cerimônia ao notar que meu nome havia sido omitido não se conteve e próximo aos microfones da banca, atônito, reclamou: ... e o Pitanga ? !!! com a bêsta dos labirintos funcionalistas a me fitar com seu olhar radieuse e num sorriso ironicamente desconstruído me cobrar: ...e o Urbanismo ? !!!

A palavra urbanismo era o primeiro "U" de FAUUSP, isso eu sempre soube porque à época da faculdade quando perguntado, de pronto respondia: eu faço a FAU ! o que significava que eu não pertencia àquela outra instituição que formava "práticos" de arquitetura, só depois fui entender que aqueles eram os verdadeiros "profissionais do mercado" os Robert Moses, os Thomas Adams, os Daniel Burnham, os Bofill e, sob certas condições, os Charles Yerkes ! aos quais eu agora estava sendo introduzido.

Nós da FAU eramos, e eu não sabia, os Ebenezer Howard, os Raymond Unwin, os Barry Parker, os Patrick Geddes, os Lewis Mumford e, sob certas condições, os Le Corbusier e até os Albert Speer !

Só mais tarde, com a plutocratização do ensino superior que permitiu que bully boys, eastmans, rounders e creepers devidamente apadrinhados por militares e ou políticos corruptos estabelecessem seus dumb-bells e Mietskaserne,é que surgiram infindáveis gerações de Ars..,Bes..,Cans...,Res...,Vis... e tantos outros epítomes da escatologia mercadoarquitetônica, e eu teria que especificar que FAU era a minha, se FAU rulhos, FAU camp, FAU cruzes, FAU santa genoveva ou FAU o-diabo-que-o-carregue...

Quoi qu’il en soit, nunca é tarde demais para se percorrer os labirínticos "U"s que são no dizer de Giancarlo De Carlo os meios através dos quais a sociedade melhor se faz representar, ou como Giulio Carlo Argan parafraseando Mumford e Saussure:

"A cidade favorece a arte, é a própria arte, disse Lewis Mumford. Portanto, ela não é apenas, como outros depois dele explicitaram, um invólucro ou uma concentração de produtos artísticos, mas um produto artístico ela mesma. A origem do caráter artístico implícito da cidade lembra o caráter artístico intrínseco da linguagem, indicado por Saussure: a cidade é intrínsecamente artística."

"Devemos, todavia, constatar que a idéia da história como seqüência imprevista de eventos, e de eventos não previstos nem preordenados, não contradiz de forma alguma a hipótese do caráter artístico fundamental da cidade. Esta acaba sendo confirmada pelo fato de que a cidade real jamais corresponde a formas idênticas às dos modelos ideais."

"Dizemos, portanto, que a forma é o resultado de um processo, cujo ponto de partida não é a própria forma. A cidade não é Gestalt mas Gestaltung."

Ainda Argan, relativizando a importância do centro histórico enquanto figura urbanística estanque que, como veremos em Peter Hall no Capítulo 6, serviu aos mais indefensáveis propósitos e no Capítulo 7 do mesmo livro segundo Le Corbusier deveria ser destruído.

"O conceito de 'centro histórico' é instrumentalmente útil porque permite reduzir, quando não bloquear, a invasão das zonas antigas por parte de organismos administrativos ou de funções residenciais novas que fatalmente conduziriam, mais cedo ou mais tarde, à sua destruição. O mesmo conceito, porém, é teoricamente absurdo porque, se se quer conservar a cidade como instituição, não se pode admitir que ela conste de uma parte histórica com um valor qualitativo e de uma parte não-histórica, com caráter puramente quantitativo. Fique bem claro que o que tem e deve ter não apenas organização, mas substância histórica é a cidade em seu conjunto, antiga e moderna."

E aqui além de demonstrar historicamente a organicidade artística da cidade termina com uma referência implícita a Patrick Geddes como veremos no Capítulo 5.

"Em toda a sua história, a cidade resulta composta pelo entrelaçamento de temporalidades diversas, o que Quitavalle recordava ao reivindicar a pluralidade e diversidade das durações existenciais, as diversas temporalidades indicadas por Le Goff para a Idade Média. Cada uma das artes em sua individualidade tem seus tempos de idealização e técnicos, que podem ser estudados tanto em sentido sincrônico como em sentido diacrônico."

"O estudo das inter-relações entre as artes e a sua convergência num conceito unitário de arte, qualquer que seja a consistência deste no plano teórico, tem sempre uma realidade histórica precisa e incontrovertível, porque o conceito de arte não é uma invenção da filosofia moderna; ele pertence à todas as civilizações históricas e nasce na consciência da sua convergência intencional numa unidade que se chama arte, mas se realiza, de fato, naquele organismo cultural complexo que é a cidade. Já se perfila, aliás, uma extensão da cidade ao território, não sendo possível prescindir de uma idéia do periekon natural que envolva e integre a área da cidade como núcleo histórico."

Antes de terminar com esta introdução, faz-se mister alertar para o fato de que, o que se segue, é uma EDIÇÃO de Cidades do Amanhã de Peter Hall, e não um resumo, pois nem uma só palavra foi acrescida ao texto e, todavia, milhares foram eliminadas e o resultado pode ser lido continuamente sem perda de substância. Quero dizer que acredito ter conseguido eliminar 400 páginas de gorduras de três tipos básicos: estilística, estatística e documental que, como sói acontecer, tiram o sabor da carne mas diminuem o colesterol. O mesmo procedimento foi adotado para o Depoimento de um Arquiteto Italiano de Giancarlo De Carlo.


O Grande Experimento - Arte Russa 1863-1922. Camilla Gray. Worldwhitewall Editora. São Paulo. 2004


Arquitetura Construtivista - URSS 1917-1936. Vittorio De Feo. Worldwhitewall Editora, São Paulo, 2005

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