A
arquitetura italiana no pós-guerra
No
período do entreguerras, durante o regime fascista, a arquitetura
italiana passou por sérias dificuldades e se dividiu em duas correntes
principais. A primeira, a dos acadêmicos, eram arquitetos do regime:
Piacentini, Muzio, Busiri-Vici
e tantos outros. A segunda , (...)que haviam lido os livros de Le
Corbusier, que souberam alguma
coisa de Gropius,
da Bauhaus, conheciam arquitetura holandesa, etc. Este grupo formou-se
ao redor da revista Casabella. A revista Casabella era dirigida
por duas pessoas: uma chamava-se Giuseppe
Pagano e a outra Edoardo
Persico.(...)
Entre os modernos daquele período, Pagano
e Giuseppe Terragni eram os
mais velhos e experientes. Terragni
era muito famoso, construiu a Casa do Fascio, em Como, em 1936 e
era um arquiteto muito interessante,(...). Além destes, haviam também
os arquitetos modernos mais jovens: Albini,
Gardella, Palanti...Giancarlo Palanti morreu
aqui em São Paulo, há alguns anos.
Já nos últimos anos do fascismo, durante a resistência, muitos destes
arquitetos começaram a unir-se, colocar os problemas da arquitetura
em uma dimensão mais atenta aos problemas sociais. (...)Era uma
arquitetura bem informada, que propunha uma reorganização espacial
de todo o território. Ao mesmo tempo nasceu em Roma uma nova corrente
moderna auto-intitulada "Associação para a Arquitetura Orgânica".
Era um pouco inspirada por Bruno
Zevi, que esteve na América
durante a II Guerra e conheceu o trabalho de Frank
Lloyd Wright. (...) enquanto
a arquitetura milanesa do norte(refiro-me à região industrializada
da Itália, composta de Torino, Gênova, Milão) era uma arquitetura
mais racionalista, a arquitetura romana era mais pictórica, mais
populista, mas que teve, entretanto, algumas figuras interessantes
como Ridolfi, Fiorentino e
Gorio, arquitetos de notáveis
qualidades.
A
crítica ao modernismo
(...)a
crítica ao racionalismo nasceu principalmente na Itália, muito tempo
antes que chegasse o Pós-moderno, e a verdadeira crítica orgânica
ao Racionalismo - em termos mundiais - foi feita pelo "Team
X" logo após a queda do CIAM. Crítica que não dizia que Le
Corbusier era um estúpido,
mas que Le Corbusier
era um grande arquiteto, que a aplicação de algumas de suas teorias
mais abrangentes já não eram mais possíveis e era necessário retornar
a uma arquitetura mais específica.
A
crítica de arquitetura na Itália
A
crítica teve na Itália um forte desenvolvimento. Bruno
Zevi foi um crítico de qualidade,
(...)Giulio Argan
é um crítico minucioso, foi o primeiro a fazer na Itália uma crítica
construtiva e orgânica da Bauhaus. Ele vem do grupo "Casabella",
de Turim. Leonardo Benevolo
é um crítico católico e, em certos casos, um pouco esquemático,
mas muito hábil na classificação dos períodos. Os seus livros foram
muito úteis do ponto de vista didático-pedagógico. Depois temos
críticos mais jovens dentre os quais o mais sólido, o mais culto,
certamente é Manfredo Tafuri.
Neste momento ele já não se ocupa de arquitetura contemporânea,
pois supõe ser um assunto esgotado, e trabalha exclusivamente com
a arquitetura dos "seiscentos". O discurso crítico, porém,
é muito qualificado. Paolo
Portoghese foi excelente no
início de carreira com seus livros sobre Michelângelo
e Borromini.
Depois tornou-se uma espécie de indústria editorial, trabalhando
com uma equipe e produzindo um livro por mês.
A
essência da arquitetura e sua relação com o homem
(...)Acredito
que a relação entre o edifício e a cidade seja importantíssima.
(...) O desenvolvimento civilizacional no campo acontece, mas a
reboque do urbano. Assim sendo, um arquiteto quando pensa o edifício
deve pensar que este fará parte de um contexto maior que é a cidade.
A arquitetura isolada como
objeto não existe, está sempre ligada ao contexto. A arquitetura
é o instrumento mais extraordinário que os seres humanos desenvolveram
para representar-se para dizer quem são, muito mais que a língua,
do que a pintura, do que a escultura.(...)
(...)Enquanto normalmente se considera que a arquitetura é o momento
técnico do processo construtivo, no qual se desenha e se constrói,
eu tenho em conta que a arquitetura é antes de mais nada uma decisão
de fazer alguma coisa no espaço da cidade, de algo que vai entrar
na paisagem urbana.(...)
O
pós-modernismo
O
Pós-modernismo italiano é muito confuso, muito diverso. Existem
algumas tendências "Neo-racionalistas" (...)como Aldo
Rossi e Giorgio Grassi. Estas
arquiteturas têm alguns aspectos tenebrosos porque lembram muito
a arquitetura fascista exatamente no aspecto da imagem. São arquiteturas
que se consideram autônomas, abstratas, atemporais. Depois existem
algumas correntes pós-modernas mais mundanas. Uma, por exemplo,
é a arquitetura de Paolo Portoghese,
(...)É um homem de partido, sustentado pelo partido socialista.
Na Itália os partidos políticos contam muito e acabam influindo
na própria articulação no campo da arquitetura.(...)
Leon Krier e Mauricio Culot,
são muito inteligentes e capazes, mas têm uma questão em suas obras
que não me convence: que continuem desenhando a cidade dos "oitocentos"
partindo da suposição de que aquela foi a cidade mais equilibrada
e harmônica. Eu tenho dúvidas a esse respeito, (...)não é possível
reproduzir aquela sociedade e, como são as sociedades que produzem
suas arquiteturas, trata-se de um modelo artificial. (...)O problema
não é retornar ao passado, porque não se pode voltar atrás em arquitetura.
O problema é como ir em frente.(...)
Robert Venturi,
na minha opinião, é demagogo porque propõe Las Vegas como modelo
de invenção popular, e não se dá conta que Las Vegas é planejada,
ponto a ponto, pela Máfia, que a fez assim porque estimula a jogar.
(...)Aceitá-la como modelo de cidade contemporânea é entrar no caminho
do consumismo mais voraz.
Notas:
Giuseppe
Terragni (1904-1942)fez parte
do "Grupo 7" junto com outros arquitetos anti-acadêmicos.
Em 1927 fundou o "Movimento Italiano pela Arquitetura Racionalista"
que defendia o funcionalismo. Morreu lutando na frente russa.
Franco
Albini (1905-1977), formado na Faculdade
Politécnica de Milão, iniciou carreira montando escritório com Giancarlo
Palanti e Renato Camus. Durante a década
de 30 teve participação ativa nas revistas Domus e Casabella. No
imediato pós-guerra alargou suas preocupações para os problemas
urbanísticos em uma escala regional. Foi professor no Instituto
Universitário de Arquitetura de Veneza(IUAV).
Ignazio
Gardella (1905-?), formado em Engenharia
Civil e Arquitetura, foi professor na Faculdade de Arquitetura do
Politécnico de Milão e no IUAV. Foi membro do Movimento de Estudo
de Arquitetura, do CIAM, das Academias de Belas Artes de Gênova
e Veneza.
Giancarlo
Palanti (1906-1977), formado na Escola
Politécnica de Milão, morou em São Paulo de 1947 até sua morte,
deixando obra significativa no Brasil. Assinou em conjunto com a
arquiteta Lina Bo Bardi diversos
projetos, dentre eles a sede da Rádio Tupi. Trabalhou também associado
a Henrique Mindlin,
participando do Concurso para o Plano Piloto de Brasília(1957),
obtendo o 5 lugar.
Mario
Ridolfi (1904 -?) formou-se na Escola
Superior de Arquitetura de Roma. Em 1933 faz viagem de estudos à
Alemanha, que acaba resultando em colaboração profissional com Wolfgang
Frankl. Foi membro, junto com Mario
Fiorentino, do Comitê Executivo para redação do Manual do Arquiteto,
em 1946.
Mario
Fiorentino (1918 -?), foi membro fundador
da Associação pela Arquitetura Orgânica, em 1945. Foi professor
da Faculdade de Economia e Comércio de Urbino, da Faculdade de Engenharia
e da Faculdade de Arquitetura, ambas de Roma. Foi também membro
do Instituto Nacional de Urbanística e da Ordem dos Arquitetos de
Roma.
Giancarlo
De Carlo é arquiteto italiano formado
na Faculdade de Arquitetura de Veneza. Foi membro do grupo internacional
"Team X" de 1952 a 1960 e fez parte do grupo italiano
do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). Professor
do Instituto Universitario di Arquitetura de Veneza e diretor da
ILAUD(International Laboratory of Architecture and Urban Design).
Foi membro da revista Parametro e editor da revista Spazio e Società.