A
redescoberta de Lissitzky nos anos 60 foi, ao mesmo tempo, um reconhecimento
de suas realizações e um aspecto da pesquisa acerca das fontes do construtivismo.
Publicações e exposições desde então tem revelado Lissitzky não apenas
como um pintor abstrato de menor importância, mas como uma figura de
reputação universal.
Lissitzk
obteve êxito trabalhando em muitas áreas diferentes e era dotado de
talento para a arquitetura. Mas suas várias atividades não são, freqüentemente,
relacionadas às dos seus contemporâneos europeus; ele parecia ter trabalhado
no vácuo.
Quando
viajou pela Europa Ocidental, no final de 1921, estava bastante interessado
nas últimas experiências em arte. Porém, para que seu trabalho seja
devidamente entendido, deve, primeiramente, ser julgado em relação à
atmosfera da Revolução Russa, com suas reviravoltas e sua fé na transformação
radical do mundo.
Em
1917, graduou-se em arquitetura, em Moscou, mas, sabe-se, já atuava
como artista desde 1912, fazendo, inicialmente, ilustrações de livros
à maneira de Chagall.
Considerava
os anos que passou em Vitebsk - do verão de 1919 até o outono de 1921
- como o período de maior atividade criativa quando, então, atingiu
a maturidade como arquiteto, tipógrafo e mestre do design de
exposições.
Foi
Chagall quem convidou Lissitzky para ir a Vitebsk, mas Lissitzky
sabia que Malevich lá estaria ensinando, em setembro
1919, e ansiava por promover um estreitamento com ele.
Lissitzk
o conheceu em Moscou, um ano antes, para onde viajara com a intenção
de conhecer as obras dos suprematistas na 10ª Exposição Estatal do
Suprematismo e da Arte Abstrata.
A
exposição e o próprio Malevitch haviam, ambos, causado uma forte impressão
ao jovem arquiteto e designer.
Em
Vitebsk, Lissitzk lecionou no Atelier de Artes Gráficas, Impressão
e Arquitetura do Colégio de Arte do Povo. Lissitzk queria estudantes
capazes de aprender "os métodos e sistemas básicos da arquitetura
e desenvolver a expressão gráfica e plástica dos seus projetos construtivos
através do uso de modelos".
Os
projetos 'Proun' ¹ foram
desenvolvidos, inicialmente, em estreita ligação com estes modelos,
no outono de 1919.
Eram
uma consequência lógica do estudo do suprematismo. Comparações
com a obra de Malevich se tornam óbvias.
Os
'Prouns' foram desenvolvidos em colaboração com outros alunos de Malevich
- que em 1921 sucedeu a Chagall como diretor da Escola Vitebsk.
'Prouns'
foram exibidos, inicialmente, em uma exposição em Vitebsk, em 1919,
como pinturas, apesar do próprio Lissitzk considerar os 'Prouns', assim
como os desenhos similares de outros seguidores de Malevich, como um
estágio transitório entre pintura e arquitetura.
Lissitzk
utilizava-os como um meio de estudar a relação entre a forma e a matéria,
cor e matéria, matéria e construção.
"Proun" tridimensional (1923) instalado no MAM de Paris. Reconstrução
de 1965.
Pondo
a pintura e o artista de um lado e a máquina e o engenheiro de outro,
o 'Proun' se propõe a criar um novo espaço.
O
'Proun' é o elemento estrutural em um novo sistema de composição espacial
- cuja base é o 'quadrado negro' de Malevich.
Kazimir
Malevich "Quadrado Negro", 1915.
Dessa
forma , Lissitzk demonstrou a profundidade do espaço e enfatizou a massa
da forma, mas é tão errado considerar o 'Proun' como um
elemento espacial quanto pensar nos projetos suprematistas contemporâneos
de outros membros da UNOVIS ² -
os fundadores da nova arte - como se
fossem Planar³.
Pois
o suprematismo se desenvolveu em Vitebsk como uma arte da 'construção
da forma' da arquitetura. O 'Proun' não surgiu isoladamente, mas como
parte da assimilação das lições do suprematismo, refletindo, dessa maneira,
os esforços de explicitação da arte do período. Há, todavia, diferenças
óbvias entre os 'Prouns' e as maquetes feitas pelos colegas de Lissitzk,
Seus modelos são mais dinâmicos e decididamente orientados no espaço
e, apesar de parecer paradoxal, a abstração do 'Proun', freqüentemente,
oculta uma intenção arquitetônica concreta.
1. PROUN (pronuncia-se
Pro-un) : Criados entre 1919-21, por Lissitzk, definem-se como 'projetos
para a afirmação do novo' - representações axonométricas
de corpos geométricos de formas diversas em equilíbrio, ora repousando
sobre um alicerce sólido, ora flutuando no espaço cósmico.
2.UNOVIS:
Grupo fundado em 1919 por Kazimir Malevich no Colégio de Arte do
Povo, em Vitebsk - após este aceitar o convite de seu Reitor V.
Ermolaeva - e, basicamente, era formado por: I. Chashnik, N. Suetin,
L. Khidekel, N. Cohen, L. Yudin, A. Leporskaya, V. Vorobieva, Nojov,
Zeitlin e, até fins de 1921, El Lissitzk e S. Senkin.
3. PLANAR:
Suprematismo bidimensional.
Os "Proun" contêm diversas construções espaciais que, freqüentemente,
possuem claras conotações - como na Ponte "Proun" IA,
de 1919; ou Cidade "Proun" IE, de 1921 (exibido na
Mostra da Arte Russa, em Berlim, em 1922). Esse último é próximo
dos modêlos arquitetônicos de Malevich, Chashnik e Suetin. O "Proun"
Quarto 30E é, essencialmente, desenho cenográfico.
"Proun" IA, ponte I ,1919
Nikolai
Suetin: Cerâmica, 1923
Muitos
dos problemas formulados nos "Proun" - peso sobrepujante,
flutuação livre das formas - foram solucionados em projetos
como o de um arranha-céu horizontal em Moscou - o chamado projeto "Cloudprop".
El Lissitzk: Cloudprops (Wolkenbugel)
na Praça Nikitsky, Moscou, 1925
Os "Prouns" também formaram as bases do design prático.
Como membro do Comitê de Criação Central da UNOVIS,
Lissitzk estava diretamente envolvido com a propaganda. Nos painéis e posters
de propaganda de sua cidade planejada, enfatizou a essência dinâmica
do impacto das formas coloridas no espaço suprematista. Para Lissitzk,
elas simbolizavam questões sociais - como a penetração de um triângulo
extremamente vermelho em um puro círculo branco no poster " Golpeie
os Brancos com a Cunha Vermelha" (1920).
El Lissitzk: Golpeie os brancos com a cunha vermelha, 1920
Poucos
artistas foram tão receptivos às idéias atuais quanto Lissitsk; igualmente,
poucos homens foram tão leais ao seu tempo e acreditaram tão firmemente
nas possibilidades inesgotáveis do progresso ou na reformulação da
totalidade do ambiente material e espacial do homem.
Versão
para o português: L. A. Pitanga do Amparo