PITANGA do AMPARO - casa vogue magazine 1985
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BRANCO & PRETO

O arquiteto Pitanga do Amparo reformou totalmente um apartamento em São Paulo, onde os destaques são para as cores preta e branca.
Fotos: Calazans

"Cansado (estèticamente falando) do uso em arquitetura das cores primárias, vermelho, amarelo e azul; e das complementares, verde, laranja e violeta, ora gerando grandes contrastes absolutos, ora explodindo dutos de ar condicionado aparentes e assim, precursoramente em 1974 antecipando, quase incógnito aqui na selva, o high-tech do Centro George Pompidou de Piano & Rodgers, resolvi trabalhar as possibilidades do branco & preto deixando para os retardatários e oportunistas a chance de descobrirem, anos após, os efeitos corajosos que poderiam extrair de suas cinzentas arquiteturas de concreto e sóbrias formas arredondadas com o uso das cores puras.

O abandono destas cores coincidiu, não por acaso, com o meu início na chamada arquitetura de interiores, onde defendo outras posturas que as adotadas para a arquitetura construída, visto que, em uma reforma, estamos aparentemente limitados pelas interferências de vigas, pilares e prumadas hidráulicas. Digo aparentemente, pois vocês vão percorrer, através destas páginas, um projeto de reforma total de um apartamento em que do original só restaram praticamente as paredes externas do prédio que o contém.

Demoli literalmente todo o apartamento e desci-o em centenas de sacos de entulho pelo elevador de serviço.

E aí eu me questiono se, para o arquiteto, a destruição não é, em certos casos, mais gratificante que a construção.


Salão limpo, pude inverter a planta original jogando os quartos próximos da cozinha (única peça preservada) e no amplo quadrado em que se situavam os desajeitados quartos e banheiros pôde-se criar os quatro ambientes que compõem a parte social do apartamento.

Toda arquitetura é pensada em planos independentes e, em sua maioria, a 45 graus, o que vale também para a marcação das réguas do piso, dos níveis de acesso às suítes, dos volumes do forro e das linhas dos spots, culminando com a escultura do centro do living.

O elemento crítico do projeto é o corredor virtual criado pelos três planos quadrados de alvenaria que ironicamente ocultam as três cores primárias, vermelho, amarelo e azul, as quais, durante o dia, por reflexão, irradiam essas cores recriando em luz a escala cromática que vai do vermelho ao azul. À noite, o mesmo efeito é conseguido através de neons embutidos nos topos dos mesmos planos, como se pode ver em uma das fotos.

Essa escultura linear, metarquitetônica, de fusão (arquitetura-arte-arquitetura), é a análise plástico-cromática, quase código de leitura, como a lembrar em letras luminosas "Quem entende de tintas é o pintor!", para que, no outro extremo do ambiente, ocupem as pinturas seu verdadeiro lugar: autóctones, monumentais, ora líricas, ora agressivas, sempre muito harmônicas na sua intrínseca magnitude.

O projeto arquitetônico, a execução das obras, a escolha dos móveis e objetos de arte, além do design exclusivo de alguns móveis, são de minha autoria e absorveram onze meses de trabalho contínuo da demolição até a entrega das chaves.

Obrigado a todos e boa viagem...

Pitanga do Amparo
31/07/1985

Fotos:

1. Black and blue. O hall do elevador com carpete monza em preto.
2. Branco total. O hall de entrada.
3. Em primeiro plano, tela de Luiz Sôlha. Segue-se escultura luminosa, ao centro. Ao fundo, sofá Brigadier em couro branco.
4. O teto desenha um grande quadrado abrigando a escultura, vista agora do topo. À esquerda, duas Wassily e à direita Cidade-Campo, duas telas complementares de Takashi Fukushima.
5. Os três planos e suas cores-luzes.
6. No corredor, poltrona Willow no hall de entrada.
7. O outro ângulo do corredor. À esquerda, o acesso às duas suítes. À direita, acozinha transparente. No fundo o living.
8. Entrando na suíte do casal, cama Strips e outra tela de Luiz Sôlha. Persiana vertical Columbia e tapete extra-nylon Tabacow.
9. No quarto, a simpática hidromassagem Twin, da Jacuzzi. Ao fundo, atrás do lençol de vidro, novamente a cozinha.



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