Pitanga do Amparo
"Da
riqueza de posturas surge a riqueza de projetos"
Pertencente
ao grupo de arquitetos "não alinhados" como Carlos
Bratke, a originalidade deste jovem e irreverente arquiteto transparece
já no nome. Luís Antônio faz questão
de ser conhecido apenas como Pitanga do Amparo.
Formado em 1973 pela FAU/USP, como toda sua geração
sofreu forte influência de Sérgio Ferro de quem apreendeu
a linguagem de um processo construtivo insólito até
então: expor "visceralmente" estrutura e tubulações.
À supressão de acabamentos, Pitanga acrescenta cores
primárias fortes e muita luz, empregadas intensivamente:
"Uma arquitetura para ser vivenciada e não apenas vista,
com um outro tipo de sensualidade, ou melhor, a sensualidade ao
alcance das mãos".
Defendendo o retorno da arquitetura enquanto arte e processo criativo
inseparável das demais manifestações culturais,
Pitanga do Amparo foi fortemente marcado pelos movimentos de contracultura,
então em voga nos anos 70. Ele busca inspiração
para sua arquitetura no humor, nos quadrinhos, na música
pop, no rock, no free-jazz de Jean Luc Ponty e de John McLaughlin
ou no cinema. Ironicamente, denomina essa arquitetura de fusion-style,
parodiando o jazz-fusion. E faz questão de afirmar
que não tinha conhecimento dos projetos de vanguarda que
estavam surgindo fora do Brasil: "achei o caminho sozinho".
Um ano após se formar ingressou na Itauplan projetando várias
agências bancárias, "barbarizando vermelhos, azuis
e amarelos" até ser afastado, em 76, por ter idealizado
o sistema de ar condicionado de uma das agências na forma
de aranha vermelha.
A partir desse incidente começou a carreira de autônomo,
"tocando" obras por ele projetadas na periferia de São
Paulo. O arquiteto observa que esse trabalho resultou num grande
enriquecimento interior, ensinando também ser possível
a racionalização da construção sem prejuízo
da criatividade.
Seus projetos ganham maior notoriedade na Mostra de Arquitetura
Brasileira, realizada em Buenos Aires em agosto de 83, onde se revelaram
vários arquitetos de talento, até então desconhecidos,
com obras desvinculadas do Movimento Moderno.
-"A arquitetura pós-moderna brasileira nada tem a ver
com a americana ou com a européia. É apenas aquela
que não segue os mesmos valores do modernismo. Na minha arquitetura,
o pós-moderno é utilizar biotectura, empregar a high-technology,
trabalhar o tijolo aparente".
Com relação à high-tech, Pitanga do
Amparo recorda o seu uso na Agência Cancela, no Rio de Janeiro,
já em 74. Teto amarelo, duros vermelhos, aparelhagem de ar
condicionado em caixas de vidro, toda uma simbologia underground
da época: sangue correndo nas veias, drogas.
Dez anos depois é fácil observar uma evolução
no seu trabalho. A cor forte, utilizada para compensar falta de
recursos econômicos, foi substituída pelo branco na
composição de interiores. Brancos são todos
os ambientes da loja "Huis-clos" destacando colorido do
vestuário exposto e que mereceu o Prêmio IAB de Arquitetura
de Interiores de 83.
A cor, por outro lado, está presente em trabalhos mais recentes,
sob a forma de luz; a reflexão das três cores primárias
recompõe o arco-íris.
Na danceteria "Rose Bom Bom" Pitanga do Amparo se serve
do "retro" quase como uma provocação. "É
uma estética 'retro-futurista', bastante contraditória,
assegura ele. Se, por um lado, nega, por outro afirma. A arquitetura
da fachada sugere um 'balneário futurista', perdido e recuperado
pela minha memória afetiva" .
O arquiteto, que recebeu novamente o prêmio IAB-85 de Arquitetura
de Interiores, sugere aos jovens que criem sem inibições
por mais ridículo ou pretensioso que possa parecer".
- "Da observação do trabalho realizado os erros
serão corrigidos, as arestas aparadas. Então, quem
sabe, despontará o grande filão".
- "É da riqueza de posturas que surge a riqueza de propostas.
O excesso, de conceituação, a obrigação
de ser genial ou ter que satisfazer uma ideologia apenas inibem
a criatividade do projetar. A sociedade está em crise, os
conceitos estão sendo repensados; está se tentando
propor uma outra estrutura, porque a existente não serve
mais. Não se pode, portanto, ficar estagnado".
E brincalhão, conclui: "não estou preocupado
com a ressaca. Quero tomar minhas biritas e, depois, se for preciso,
o engov".
Texto:
Haifa Yazigy Sabbag
Ilustração: Hermenegildo Sábat
Fotos:
1.
"Rose Bom Bom"
2. Pitanga do Amparo. Ilustração de Hermenegildo Sábat
3. Apartamento Luciano Nascimento. Prêmio IAB/85 Arquitetura
de Interiores
4. Huis-Clos. Prêmio IAB/83 Arquitetura de Interiores
5. A temível aranha