PITANGA
do AMPARO | |
texto: Pitanga do Amparo O prédio foi o último trabalho do arquiteto austríaco modernista Franz Heep que viveu e trabalhou no Brasil grande parte de sua vida. Apesar de ter sido criado no início dos anos sessenta, ainda incorpora boa parte do vocabulário moderno, tal como o pilotis (parcial), elementos vazados na fachada, brise-soleil deslizante e regulável e, o que é indiscutivelmente valioso e raro, hoje em dia, e me arrebatou logo que o conheci, foram as espetaculares janelas que vão de parede à parede, tanto nos dormitórios quanto na sala de estar. E só isso estava em condições aproveitáveis. O que dizer da típica compartimentação anos sessenta dos três dormitórios com dois banheiros no corredor, um paleolítico "quarto de creada" junto à, hoje em dia, obsoleta área para estender roupa? O imóvel com trinta e três anos de idade era o mais fiel retrato da derrelição. Quinze caminhões de entulho após e todo o sistema hidráulico e sanitário, elétrico e telefônico removido, paredes e pisos demolidos e tudo isso reconstruído em novos locais segundo o projeto de arquitetura, foi possível, então, abrigar um programa contemporâneo de habitar, em que os espaços se comunicam na razão inversa da privacidade de seus usos. Quer dizer, necessidade de maior privacidade igual à menor comunicabilidade. Parte das propostas adotadas são uma síntese de linguagens criadas e utilizadas em projetos pioneiros em vinte e cinco anos de experimentações - linguagem high tech em 1974, arquitetura biológica em 1977, uso da cor-luz na arquitetura de interiores e espaço minimal (estilo "clean") em 1982 - e são o substrato empírico de minha tese de doutoramento em curso na Universidade de São Paulo. |
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