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Dicas

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ARQUITETURA :
O que parece ser mas não é, o que realmente é, e para que serve - Parte 2

Colaborador: Pitanga do Amparo
email: Se quiser saber mais sobre o colaborador, acesse o site:
http://www.worldwhitewall.com/

 

CCCaaarrrrnneevalle ddiiii Veneeeezzziiiaaa!!!

Exultava para as cameras do programa de TV a bicha octogenária num patético e decadente traje da nobreza do Cinquecento (o século XVI) rodeado de máscaras da Commedia dell'Arte.

Como todo mundo sabe, o que restou do carnaval veneziano e daqueles anos de luxo, esplendor, orgias, bebedeiras em grandiosos bailes de máscara, é meia dúzia de sorumbáticos e nostálgicos turistas a perambularem fantasiados pelos monumentais e tenebrosos pallazzi (palácios) à luz de velas num silêncio sepulcral só interrompido por alguma frase mais eloqüente de um dos convivas.

Sempre que se anuncia o próximo evento da chamada Casacor, essa cena me vem à mente.

É porque tudo continua sendo um grande ballo in maschera (baile de máscaras) em que uma "plêiade" de decoradores (segundo dic. Pitanga, do latim cacophilo . Adoradores da Cor Verde) fingem estar fazendo arquitetura de interiores para o consumo de outra "plêiade" de nouveaux riches (novos ricos) que fingem serem elite bem informada, esta devidamente paparicada e incensada por outra "plêiade" de colunistas sociais, que fingem serem jornalistas sérios.

A verdade é que tais eventos - em que se esquarteja uma casa e se distribui os seus vários pedaços para o canibalismo arquitetônico de alguns poucos profissionais do mercado e estes se dispõem a pagar o alto preço de locação do seu espaço em troca de alguma visibilidade na mídia e a promessa de novos clientes -, perpetuam uma grande distorção e causam um terrível malefício para a compreensão e afirmação do que seria o papel da arquitetura e as reais atribuições do arquiteto.

Vamos por partes, como diria o...

O primeiro crime é dos organizadores que estimulam a transformação de uma obra arquitetônica que, boa ou má, teve e tem uma dignidade intrínseca conquanto criação conceitual de seu arquiteto que veria, se vivo ainda estivesse, sua obra de arte ser malbaratada em um mercado persa da decoração em que sofisticados vendilhões montam suas argentas e graníticas barraquinhas ávidos por bons negócios.

Com isso, jovens patricinhas e peruas nem tanto (eu prometi que acabaria falando das mulheres!) adquirem uma visão equivocada do que seja o compromisso do arquiteto frente ao objeto de sua criação e vislumbram o lucro fácil nessa "nova profissão" para cuja atividade se requer pouco estudo além do diploma de arquiteto, fácilmente conseguido em qualquer das escolas-privada (sem s mesmo) que abundam em cada esquina, nenhuma experiência além de folhear revistas importadas de decoração para adquirir "inspiração" e, é lógico, muita grana do papai ou do maridão para pagar a conta do analista e o aluguel do seu espaço na Casacor.

E tchans! Com vocês a nova dupla de arquitetas de interiores:

Gigi Lopes de Almeida e Magalhães & Sarita Goldberg de Mendonça...

O segundo crime deve ser imputado aos participantes que se dispõem, irresponsavelmente, a alocar recursos fabulosos próprios e de firmas que, em troca de publicidade, patrocinam seus espaços.

Assim, todos os materiais, mão-de-obra empregada e a própria construção, são literalmente abandonados e inutilizados após o término do evento.

Ocupar, utilizar, prostituir e abandonar à própria sorte...

Em Recife, a versão local desse tipo de evento é um exemplo a ser seguido para quem acredita nesse tipo de iniciativa, pois os organizadores, que são também arquitetos, criam o evento em uma casa com um programa global pré-determinado e com um uso social já previsto.

Aí então, cada arquiteto participante realmente reconstrói um setor da futura clínica ou albergue para crianças ou idosos e, terminado o evento, a casa, totalmente reformada, é entregue, - com todos os melhoramentos e acabamentos fornecidos pelas empresas participantes e que foram utilizados na criação dos ambientes, tais como pisos, forros, louças, metais, persianas, luminárias, etc - à entidade responsável e aos seus futuros usuários, no caso crianças ou idosos carentes.

Ocupar, utilizar, valorizar e reintegrar à cidade e aos cidadãos...arquitetura.

18/04/2000

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[ Última atualização: 08 maio 2000 ]