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nove
"Imitei
a mim mesmo; foi uma refazenda"
Ao
reler muitos de seus mais importantes trabalhos, Pitanga do Amparo
buscou, neste apartamento, resgatar idéias de projetos que
ficaram dispersos ou em lugares que desapareceram. Caso das 'metarquiteturas',
estruturas sem função definida, mas que dão
forma ao ambiente.
tão
criei o que chamo de piscina virtual, numa citação
indireta ao 'Quadrado branco sobre fundo branco' do pintor russo
Kazimir Malevitch, precursor do abstracionismo."
Sobre ela, pende a escultura 'Nada-homem', em fio elétrico,
de Luiz Sôlha. Seguindo esse pensamento, móveis (poucos)
e obras de arte (muitas). O único ambiente da sala de estar
é ocupado pelo sofá revestido em chintz branco, a
poltrona Wassily e duas cadeiras Bertoia com assentos também
brancos, e mesas ebanizadas, da Forma. As paredes exibem telas
de
Alex Ceverny, Niculitcheff e Paulo Sayeg.
Esse despojamento no estilo de morar se completa com a integração
do espaço. "Do high-tech,
das histórias em quadrinhos underground, eu tirei
as cores fortes da cozinha: vermelho, amarelo, azul, o que na época
da reforma era uma verdadeira heresia. Aliás, era difícil
pensar em azulejo de qualquer cor. Até que descobriram o
óbvio: arquiteto gosta de cor, só cor, e ele mesmo
trabalha a forma. E foi isso o que as empresas fizeram. Agora tenho
todos os tons, no material que quiser." O tampo de granito
café-imperial delimita o território do bar-cozinha
revestido com cerâmicas da Portobello e recheado de máquinas,
todas brancas, da Brastemp. "A lavanderia
e a cozinha são uma coisa só: mudou de máquina,
mudou de lugar. Elas definem os espaços. Até porque
a lavanderia nem existe mais. Não se estende mais roupa,
não há necessidade...", argumenta. Outra
coisa que eu sempre disse, e que muitas pessoas estranham, é
que não considero a banheira de hidromassagern um equipamento
de higiene, mas um lazer. Foi feita para se massagear, para curtir.''
Por isso, as três suites têm banheiras integradas ao
quarto. As camas, criação do arquiteto, têm
encosto independente e reclinável. No piso, claro, cerâmica,
prevalecendo o preto, o vermelho e o branco. "É
de uma praticidade! As empregadas que me perdoem, mas elas ficaram
absolutamente supérfluas!", se diverte.
Mas o tempo vai passando e o dono de galeria de arte e arquiteto
de projetos transgressivos e linhas contemporâneas busca novas
possibilidades. "Nesse trabalho acho
até que fui conservador, mais para mostrar que tudo o que
já fiz me agrada e são coisas em que acredito, e
queria para mim", considera. "Mas
hoje não estou preocupado em fazer construção.
Lógico que vou ter que empilhar tijolo, colocar janela, mas
não estou interessado nisso. Posso até fazer obra,
mas estou preocupado é com o que está por trás
do objeto. Assim como num quadro, não interessa a tinta,
mas o pensamento que está por trás da obra. Arquitetura
não é o que você desenha, é aquilo que
está sempre lá", conclui Pitanga do Amparo.