PITANGA
do AMPARO - estudo
conforto térmico nas residências 2003 -
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arquitetos paulistas 4
soluções diversas - cap. 10 arq. pitanga
do amparo
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CONFORTO
TÉRMICO NAS RESIDÊNCIAS
QUATRO ARQUITETOS PAULISTAS - QUATRO SOLUÇÕES DIVERSAS
EQUIPE:
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA
MARISA CALIDONNA GOIS
TATIANE DEMILIO DOS REIS
COORDENADORES:
Prof. Dr. MARCELO DE ANDRADE ROMÉRO
Profa. Dra. MÁRCIA PEINADO ALUCCI
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONFORTO AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO
DE ENERGIA – CECACE 2
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
2003
LOMBADA
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10 - PITANGA DO AMPARO
10.1 – TRAJETÓRIA
DO ARQUITETO
Formado pela Universidade de São Paulo em 1973, o arquiteto
Luiz Antonio Pitanga do Amparo encontra na faculdade um ambiente
de inconformismo propagado pela ditadura militar que vigorava no
Brasil, e que afastou, prendeu e torturou diversos professores universitários.
Entre os que sofreram perseguição estavam Vilanova
Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Ferro que faziam parte
de três gerações seguidas de alunos e professores
da escola. Não por acaso, cada um, a sua maneira, levou à frente
a obra do mestre na tentativa de educar a sociedade através
da arquitetura e de um novo modo de vida e forma de construção.
Artigas iniciou o debate em torno da revisão do modo de vida
burguês, do concreto e da construção industrializada,
Paulo Mendes traça um paralelo entre a poesia visual do método
construtivo e a industrialização e, por fim, Sérgio
Ferro, ao lado de Rodrigo Lefréve e Flávio Império,
cria o grupo Arquitetura Nova, que questiona o desenho por oprimir
o operário no canteiro, e assume a precariedade e a mão
de obra artesanal em projetos que expõem instalações
e estruturas numa afronta ao que consideram o falso conceito de belo.
Fortemente influenciado
por esse ambiente, Pitanga emprega-se em um escritório que desenvolve projetos para agências
do banco Itaú, onde explora tentativas de expor instalações
e criar a reflexão com o uso ostensivo de cores em uma nova
interpretação do espaço bancário. Utiliza
diversos conceitos, do que mais tarde chamariam de Arquitetura High-tech.
São dessa fase diversos projetos em São Paulo, Rio
de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina. Nestes edifícios
experimenta novas leituras do uso das instalações como
na agência Ramos, onde os dutos de ar condicionado partem do
centro do teto e dirigem-se às extremidades mais baixas do
ambiente, lembrando uma grande aranha vermelha.
Destacam-se desse período os projetos para as agências
Ramos e Cancela, no Rio de Janeiro, e das agências Celso Garcia,
Itacema e Turiassu em São Paulo.
Na mesma época, projeta paralelamente, a pedido de outros
clientes, diversos projetos de residências buscando volumetrias
marcantes e explorando novas relações espaciais entre
os ambientes.
Desenvolveu no decorrer
das décadas de 70 e 80, uma série
de projetos, onde explorarou a Biotectura, que visava a integração
da vegetação ao cotidiano das pessoas. Pitanga aplica
essas tendências na forma de residências que tinham como
característica mais marcante o telhado-jardim. Apesar de inserir
elementos novos na proposta dos mestres, suas influencias ainda estão
presentes nas instalações e materiais aparentes e no
uso expressivo do método construtivo. Além disso, existe
uma clara proposta de revisão do espaço doméstico
como na residência Célio Vieira, cujo projeto é de
1975, onde há uma separação entre área íntima
do casal e dos filhos e, em ambientes que se comunicam visualmente,
sendo possível enxergar de uma extremidade da casa a outra
ponta, devido ao desnível e das paredes baixas.
Após a primeira experiência com a Biotectura, na casa
de Célio Vieira, o arquiteto continua a explorar o tema e
desenvolve mais um projeto residencial para Takao Mimura em 1980.
Desta vez, faz uso de lajes planas e além de utilizar o verde
na cobertura, também implanta uma piscina e transforma o espaço
que antes servia apenas de laje, em uma espaçosa área
de lazer que pode ser utilizada .
Em 1982, adota novo partido
e projeta sua própria casa que é construída
no bairro do Morumbi entre 1982 e 1987. Também fazendo uso
de jardins em coberturas planas, nesse projeto, trabalha com um volume
escalonado de três níveis sendo cada terraço
acessível por um pavimento.
A experiência desenvolvida pelo arquiteto, apesar de restrita
a três projetos, é de grande importância não
só para a arquitetura, mas principalmente para a avaliação
de casos reais de coberturas verdes. O desenvolvimento desta solução
no conjunto projetado demonstra o amadurecimento do projetista e
a sua crescente familiaridade com o tema.
RESIDÊNCIA
TAKAO MIMURA, 1980 - 1981.
Rua
Gentil Leite Martins, 1047.Jardim Prudência. São
Paulo
Terreno:
250 m², Área construída: 250m².
Já tendo projetado para o mesmo cliente uma loja de materiais
de construção, nesse projeto, Pitanga dá prosseguimento
a suas pesquisas com Biotectura.
Fig. 90 - Vista da cobertura ,,,,,,,,,,,,,,,,Fonte:
Arquivo do arquiteto Foto:Jorge Butsuem
Desta
vez utiliza lajes planas e destina os espaços da cobertura,
não só ao verde, mas também ao lazer, transformando
a área em um local de convívio para a família.
Projeta junto aos jardins uma piscina e um deck, na intenção
de fazer o verde integrar-se ao cotidiano, não só visualmente
como no projeto anterior, mas também diminuindo a distância,
colocando-o junto a uma área de convívio importante
como a piscina. Da mesma forma como Paulo Mendes da Rocha, já havia
feito em um de seus projetos na forma de um espelho d’água
na cobertura, Pitanga, aqui, também se aproveita do isolamento
proporcionado pela água, colocando uma piscina bem no centro
do pavimento da cobertura.
Fig.
91 - Cortes ..............................................................Fonte:
Arquivo do arquiteto
.................
Fig.
91 - Fachadas ....Fonte: Arquivo
do arquiteto ..............................Fig.
92 - Plantas..... Fonte: Arquivo
do arquiteto
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RESIDÊNCIA
PITANGA DO AMPARO, 1982 - 1987.
Rua
Dep. Laercio Corte, nº 1000. Morumbi. São
Paulo.
Terreno: 1912 m², Área construída: 220 m².
No terceiro projeto
que realiza, utilizando a integração
de vegetação com elementos construtivos, o arquiteto
trabalha de maneira menos ostensiva. Dá mais ênfase às
vistas da cidade, proporcionadas pelo terreno, e faz uso de uma
volumetria inspirada em outra de suas casas, a “casa - bunker”.
Sendo
o próprio cliente, Pitanga tem mais liberdade formal
para trabalhar com suas próprias referências estéticas
e conceituais. Testa sistemas construtivos simples e volumetria
que lembra uma grande escada.
As
aberturas são criteriosamente selecionadas segundo orientação
e vistas da paisagem, e os jardins inserem-se nas coberturas – terraços,
herdados da Casa Mimura, que se apresentam de maneira escalonada
em três degraus, representando os três diferentes
pavimentos.
......................
Fig.
93 - Fachada oeste. ..............................................Fig.
94 - Vistas externa e interna da fachada leste
Fonte: Arquivo do arquiteto Foto: Calazans
.............
Fig.
95 - Fachadas norte e sul...Fonte: Arquivo do arquiteto ......Fig.
96 – Plantas..........Fonte: Arquivo do arquiteto
Fig.
97 - Fachadas oeste e leste..................... Fonte: Arquivo
do arquiteto
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10.2
- RESIDÊNCIA CÉLIO VIEIRA, 1975 – 1979.
Rua Acarapé nº 96. Vila Mariana. São Paulo.
Terreno: 350m², Área construida: térreo - 150m²,
superior - 70m².
O
caso escolhido para estudo é o da primeira casa projetada
no conjunto, foi a que causou maior repercussão e onde o sistema
foi implantado de maneira mais marcante. Segundo depoimento do próprio
arquiteto, a solução foi tão bem sucedida que
ele poderia até mesmo ter dispensado a impermeabilização,
uma vez que a inclinação era adequada para conduzir
a água a ser captada e a variação térmica
insuficiente para causar fissuras no concreto.
Tendo
recebido um programa a ser implantado em estreito lote urbano,
Pitanga do
Amparo foi
obrigado a desenvolver um projeto que aproveitasse
bem as estreitas faces norte, na frente do terreno, e sul nos fundos
do terreno; que respeitasse os recuos e onde fosse capaz e implantar
as idéias que cultivava sobre a integração da
arquitetura à vegetação.
Segundo
estudo em coberturas verdes de Britto Correa , a naturação
urbana é uma filosofia de vida que está tendo boa aceitação
em numerosos países. Baseada no estímulo de forma permanente à implantação
da natureza em nosso meio ambiente imediato caracteriza-se pelo uso
extensivo sustentável do verde, através da incorporação
de vegetação em fachadas e coberturas, além
das formas que poderíamos denominar tradicionais como parques,
jardins, arborízação das ruas e sacadas ajardinadas.
Na Alemanha, apoiado pelo governo, existe um forte movimento nesse
sentido, onde, estima-se que um quarto dos novos edifícios
construídos esteja inserido.
Ainda
segundo o referido trabalho, com a naturação
de fachadas e coberturas é possível melhorar em muito
as condições do microclima urbano, através do
aumento da umidade do ar, da retenção das partículas
de pó e de poluição em suspensão na atmosfera
e da diminuição da velocidade do vento. Seus efeitos
positivos também são sentidos no amortecimento dos
ruídos de baixa freqüência. Do ponto de vista da
paisagem, o verde produz uma notável melhoria na qualidade
do meio ambiente das edificações e do entorno. O uso
da vegetação integrada à edificação
também aumenta o espaço útil do edifício,
exerce influência sobre o ambiente interior, especialmente
por sua característica de isolamento térmico proporcionada
pelo substrato e pela camada de ar que existe entre as folhas da
vegetação, sem esquecer também da proteção
que proporciona, bloqueando a radiação solar.
No
caso desse projeto, o arquiteto criou um volume cuja seção
lembra um triângulo reto, onde a aresta superior, ocupada por
cobertura vegetal extensiva, sobe em direção ao interior
do lote. Segundo esse desenho, foi possível localizar a área
social no piso mais baixo, voltada para o recuo frontal e também
para a face norte; enquanto serviços e áreas intimas
desenvolvem-se em meios níveis no interior do volume, ficando
na face sul a maior parte dos quartos voltados para o jardim dos
fundos.
A
garagem apresenta-se descoberta, no recuo frontal, por onde também
se dá a entrada principal, por uma porta de vidro na face
norte do volume. Através dessa entrada, chega-se a sala de
estar que leva, tanto ao quarto do casal quanto ao resto da casa,
por uma escada que atravessa o volume longitudinalmente.
O
quarto do casal é uma suíte servida de iluminação
zenital e ventilação natural através de um domo
de abertura regulável por aletas opacas móveis, e de
banheiro que tem ventilação mecânica através
de um duto.
A
escada dá acesso a copa e a cozinha, meio piso acima, que
tem janelas voltadas para o poente. Mais meio piso acima está a
sala íntima localizada do outro lado da escada. Essa sala
conta com o mesmo domo da suíte para ventilação
e iluminação e permite a visualização
da sala de estar por cima do volume do quarto.
Seguindo
a escada atinge-se os quartos dos filhos, que tem todos,
paredes baixas
e mais um
banheiro e um domo que ilumina e ventila
a área. Os três quartos têm grandes aberturas
voltadas para a face sul, onde também estão localizados
os armários, o que proporciona o jogo de volumes alternados
que se desenvolve em toda a fachada. Também na face sul, abaixo
dos quartos localiza-se o salão de festas, o quarto de empregada
e a área de serviço acessíveis pela fachada
oeste.
Fig. 98. - Perspectiva da casa .............................................................Fonte:
Arquivo do arquiteto
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Fig.
99 - Vista aérea da casa.......... Foto
Paulo Scarpello................. Fonte:
Arquivo do arquiteto
Fig.
104 – Fachada sul ................Foto
Paulo Scarpello................. Fonte:
Arquivo do arquiteto
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10.3
- ANÁLISE
QUALITATIVA
Orientação e insolação
O
projeto desenvolvido encostou-se em uma das divisas laterais
(face leste), garantiu
insolação agradável
na sala (face norte) e privacidade no interior, cuja cozinha voltou-se
para o recuo lateral, protegida pela construção vizinha
(face oeste), e dormitórios e salão para os fundos
(face sul). O inconveniente de só poder aproveitar a fraca
insolação do sul para os quartos dos filhos e de
ter o quarto do casal no centro do triângulo é resolvido
com duas aberturas na cobertura para iluminação zenital.
A
utilização dos domos também contribuiu
para o conforto global, pois além de aquecer o interior
do volume em locais onde seria impossível se trabalhar com
aberturas laterais, também garante a ventilação,
pois serve para a saída do ar quente. Como detalhamento
da solução, encontra-se o sistema de venezianas,
compostas por aletas metálicas pintadas em cores claras,
que podem ser reguladas, aumentando ou diminuindo as aberturas,
característica que propicia o controle da incidência
de sol e vazão de ar.
Ventilação
As
aberturas da laje de cobertura também contribuíram
para a ventilação de efeito chaminé que foi
acentuadamente facilitada pelo formato da casa e pelo fato de quase
não haver paredes altas, o que proporcionou a livre circulação
de ar em seu interior. O único local menos ventilado seria
o quarto no casal, ponto mais isolado e servido apenas de iluminação
zenital logo acima da porta.
Em
situações de lotes urbanos o mecanismo de ventilação
natural em que o projetista pode confiar mais é a ventilação
por efeito chaminé, segundo o qual a diferença de
temperatura do ar, faz as porções de ar mais quentes
subirem e as mais frias descerem. Esse mecanismo propicia não
só a renovação de ar, quando este encontra
saída da parte mais alta dos recintos, mas também
auxilia na obtenção do conforto através da
movimentação no ar ao redor da pele do ser humano.
Na
casa estudada, isso ocorre não só pelo fato do
ambiente mais quente, voltado para o norte, estar na parte mais
baixa da casa, mas também porque na parte intermediária
e nas partes mais altas encontram-se as aberturas dos domos e das
janelas dos quartos. Em resumo, todo o ar que entrar pela sala,
vai, gradativamente aquecendo-se e atravessando a casa em toda
a sua extensão, saindo ou por umas das duas aberturas zenitais,
ou pelos quartos.
Isolamento Térmico
A
laje-jardim e os materiais utilizados nos vedos também
contribuíram para o isolamento térmico da construção.
Sendo todas as alvenarias compostas por tijolos maciços
de 11 cm nas paredes internas e 23 cm nas paredes externas, o conjunto
apresentou considerável isolamento térmico, sendo
a casa mais vulnerável apenas nos caixilhos. Com aproximadamente
65cm de espessura, 40 cm só de terra úmida e vegetação,
a cobertura ofereceu um isolamento incomparável, que acabou
por contribuir para dissipação da maior parte da
radiação solar que seria absorvida e também
pela que seria refletida para o entorno.
Esse é, provavelmente, o aspecto mais marcante do projeto.
Como já foi citado, a solução da cobertura
verde garante não só conforto para a própria
casa, mas também para o entorno. É com o jardim que
a casa relaciona-se com a vizinhança, aspecto que só foi
garantido pelo fato de desde o início o conceito e o partido
adotado preverem o verde não como acessório, mas
como parte principal da construção.
Entre
as características que mais se destacam além
da cobertura, estão os grandes vãos em vidro e a
distribuição escalonada dos ambientes. A primeira
devido ao pouco isolamento que proporciona será importante
para a configuração do clima interno, resultante
da escolha que o arquiteto fez a fim de valorizar a integração
com o exterior através de grandes aberturas. A segunda,
aliada às paredes que não atingem a laje superior,
permite ventilação constante e garante a manutenção
do efeito chaminé resultante da diferença de temperatura
entre os ambientes mais baixos e os mais altos e da inclinação
do teto.
Como
construção implantada em lote estreito, o projeto
utiliza-se de recursos diversos de casos em que o lote é extenso,
para obter insolação, ventilação e
visuais agradáveis. Como um todo, o resultado é coeso
e trabalha unido na expressão do partido. Uma série
de soluções que funcionam tanto individualmente quanto
integradas, regidas sempre pela laje-jardim que condiciona todas
as outras. Comunica a intenção do projetista de provar
que é possível ocupar de maneira razoável
um terreno estreito sem menosprezar o sol e o ar puro e garantindo
uma paisagem agradável em qualquer janela.
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10.4
- ANÁLISE
QUANTITATIVA
Como
no caso das simulações anteriores, aqui também
foi necessário proceder a algumas adaptações
nos dados para possibilitar os cálculos. Devido à característica
do software Humano 1.1 de só permitir um tipo de abertura
por face, foi necessário nas paredes norte e sul da sala
somar as áreas de todas as aberturas (portas, janelas) e
distribuí-las uniformemente ao longo do comprimento da face
a fim de permitir que o programa contabilizasse corretamente áreas
envidraçadas e ventiladas.
A
análise quantitativa tem por fim confirmar o diagnóstico
elaborado na análise qualitativa e precisar o alcance das
soluções utilizadas nos projetos.
Na
casa Célio Vieira, o processo seguiu exatamente esse
padrão, o isolamento que se imaginou que seria oferecido
pelas alvenarias de tijolo maciço e, principalmente, pela
cobertura verde, acabaram por comprovar-se pelos valores do coeficiente
global de transmissão térmica (K) de cada um dos
componentes, com destaque para o da cobertura que permaneceu em
torno de 0,7 / 0,8 Wm2 ?C, valor raramente alcançado em
edificações contemporâneas.
Assim
como se concretizou a previsão do isolamento dos
componentes acima citados, também foi averiguado que estava
correta a suposição de que a grande janela voltada
para o norte ( K = 5,7 Wm2 ?C), teria dois reflexos imediatos,
rápido aquecimento do ambiente no inverno, e acelerado resfriamento
nas noites, tanto no inverno, quanto no verão.
Em
um lote urbano estreito é aconselhável utilizar
de maneira generosa todas as faces voltadas para áreas livres,
e valorizar menos as faces direcionadas aos recuos laterais. Esse
tipo de escolha deve ser bem considerado, pois para garantir conforto
em recintos menos favorecidos, é necessário sacrificar
parte da qualidade dos ambientes bem localizados. Nesse projeto
isso ocorre pelo baixo isolamento garantido pelos vidros que são
largamente utilizados na sala de estar e nos quartos, únicos
locais não voltados para as estreitas laterais do terreno.
A
característica dos vidros de oferecer pouca inércia
e isolamento devido aos valores de espessura e densidade permite
que a diferença de temperatura entre exterior e interior
(Dt), seja determinante nos valores de temperatura internos, já que
o ambiente perde calor durante a noite, com tanta facilidade quanto
o ganhou durante o dia. Sabiamente, foi proposta para o local uma
lareira no centro da sala, pois os valores de temperatura mínimos,
ocorridos durante a madrugada dos dias mais frios serão
próximos dos valores da rua, ainda que a sensação
de frio seja minimizada pelo calor ganho no fim da tarde através
da parede oeste, com a incidência do sol poente (ver face
4 no gráfico de ganho solar por face).
Como
resultante, a inércia do recinto permaneceu próximo
a 60%, valor referente a construções de fraca inércia
(valor mediano). A responsável para tal valor é,
portanto o produto da união de componentes com características
tão opostas, como uma cobertura pesada e isolante, alvenaria
de tijolos maciços e caixilhos de vidros finos e extensos.
Analisando
que o caso trata de clima quente e úmido como
o de São Paulo, essa característica é minimizada,
pois a ocorrência de valores muito baixos de temperatura é menos
freqüente, algo que vem se intensificando no decorrer dos últimos
anos com valores de temperatura médios mais altos, constatados
nos estudos de Tarifa .
No caso de um clima de inverno rigoroso, uma provável
solução de característica passiva para esse
problema seria a utilização de algum sistema de
armazenamento de calor na fachada norte, como, por exemplo, uma “Parede
Trombe”, que receberia calor no decorrer de todo o dia
e só o devolveria ao ambiente a noite, período
em que o ambiente está mais frio.
Em
termos de insolação, o recinto goza de características
excepcionais, devido à orientação proporcionada
pelo lote, inicia o ano com fraca incidência solar no verão
e essa taxa aumenta gradativamente, aquecendo o ambiente satisfatoriamente,
nos dias de inverno (ver face 1 no gráfico de ganho solar
por face).
Ainda
devido, às grandes dimensões das aberturas,
nos dias de baixa nebulosidade, em que o sol estiver muito “baixo” (próximo
do Solstício de inverno), talvez torne-se necessário
o uso de cortinas para não causar ofuscamento a quem estiver
na sala.
Uma
das características mais marcantes dessa construção
e importante para a ventilação natural é a
sua volumetria regida pela forte inclinação do plano
de cobertura, abaixo do qual os ambientes organizam-se em pisos
com meio pé-direito de desnível um do outro.
Não só esse fator é determinante do regime
de ventilação dos recintos da casa, mas também
o fato de que grande parte dos ambientes comunicam-se visualmente,
permitindo a circulação do ar constantemente.
Num
projeto urbano, tem-se como garantia única de ventilação
freqüente o efeito chaminé, pois em um lote tão
estreito em baixo de configuração típica urbana,
marcada por edifícios de alturas variadas e ruas que canalizam
parte dos ventos, só se pode prever com certeza o que ocorrerá no
interior dos recintos por meio do movimento que o ar sofre devido às
diferenças de temperatura.
Na
prática ocorre o previsto, pois os valores de renovação
de ar chegam a atingir 50 ou 60 renovações por hora
quando os vidros estiverem 100% abertos, e podem ser baixados a
níveis desejados pela possibilidade de regular a abertura
dos vidros tanto na entrada, face norte, vidros até 2,00m
do piso, quanto na saída vidros até 3,30m do piso
da sala, voltados para o interior da casa ou para um dos domos.
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Cálculos
Considerou-se
para fins de cálculo, os seguintes itens:
Cobertura
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10.5
- CONCLUSÕES
Assim
como foi dito na conclusão do estudo do projeto de
Oswaldo Bratke, também aqui é possível perceber
a implantação de uma série de ideais arquitetônicos
modernistas, além de outros cultivados pelos arquitetos
formados nas décadas de 60 e 70, assim como a sua influência
no nível de conforto obtido. Entre os ideais modernistas
vemos as grandes aberturas que integram interior e exterior, a
valorização da luz natural, o uso plástico
do concreto armado que permite volumes inusitados e projeto mais
livre.
Entre
os novos ideais vemos a intenção de não
esconder os processos pelos quais a edificação nasce
e nem seu funcionamento, assim explora-se a plasticidade dos materiais
sem acabamento, a verdade estrutural exposta para que todos a entendam,
as instalações não só aparentes, mas
coloridas numa posição de destaque.
E
por fim, no caso específico deste profissional, seu interesse
pelos conceitos que pregam a integração do verde
ao cotidiano das pessoas, na forma da biotectura.
O
resultado, em termos de temperatura interna, aqui também
tem como fatores mais importantes aqueles que foram proporcionalmente
definidores do partido arquitetônico.
A
cobertura jardim, aspecto mais marcante do edifício,
também é o condicionante mais importante da temperatura
interna, já que a cobertura é a parte mais exposta à forte
radiação solar da cidade, e aqui ela garante o isolamento,
ao invés de transmitir calor.
A
volumetria, segunda característica mais importante do
partido, é a maior responsável pela ventilação
de efeito chaminé que ocorre no interior da casa com o ar
entrando pelas aberturas mais baixas e saindo pelas janelas mais
altas e domos.
A
inércia térmica dos tijolos maciços também
influi bastante, e só não tem importância maior
no cálculo de temperatura devido a sua orientação
no lote.
E
finalmente, os vidros em grandes áreas que garantem não
só a ventilação, mas também a continuidade
visual dos espaços, promovendo a integração
do interior e do exterior, aqui contribuem para a proximidade nas
temperaturas das duas áreas, baixando consideravelmente
os valores de isolamento.
Como
em outros casos, é evidente o conhecimento e conceitos
divulgados nas pranchetas da época. Não é difícil
notar quais eram as maiores preocupações dos arquitetos
do período e quais características eram deixadas
em segundo plano.
Em
resumo, a análise de um projeto realizado a aproximadamente
25 anos, mostra a consciência de um grupo de arquitetos na
necessidade de promover determinadas mudanças nos modelos
construtivos adotados ao longo do século, e de que ainda
hoje é necessário continuar pesquisando para obter
níveis melhores e mais satisfatórios de conforto,
pois como já foi provado por profissionais conscientes,
a finalidade e o foco da arquitetura é o ser humano e seu
bem estar.
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