Arquitetura, Paisagismo, Interiores, Escultura do Jardim: PITANGA
DO AMPARO
Pintura: Takashi FUKUSHIMA
Fotos: Paulo SCARPELLO
UM PROJETO PARA O HOMEM DEIXAR DE SER BURRO
Biotectura
ou Arquitetura Biológica é o nome que o arquiteto
alemão Rudolf Doernach atribuiu à preocupação
de se incorporar à arquitetura a vida vegetal e as formas
vivas e, portanto, energéticas que convivem com as plantas,
das bactérias aos pássaros.
Ele próprio não experimentou nenhum exemplo de Biotectura
que o satisfizesse. Foi esta a conclusão a que chegaram
as pessoas que assistiram à sua conferência em 1977,
no Instituto Goethe, onde, através de diapositivos, o arquiteto
tentou demonstrar a importância do verde integrado às
construções com contra-exemplos de sua autoria.
Todo o seu trabalho anterior era baseado nos princípios
da pré-fabricação e na industrialização
de protótipos de concepção aparentemente
arrojada: esferas, pirâmides, elipsóides e toda gama
de volumes geométricos pseudo-espaciais, a partir da utilização
de derivados sintéticos, resultando num tipo de trabalho
vanguardeiro para o HOMEM-DO-FUTURO-DAS-ESTÓRIAS-DO-FLASH
GORDON.
Aconteceu que as casas-salsichóide mostraram-se insuportáveis
ao serem ocupadas e, logo, o nosso arquiteto percebeu que havia
algo de errado com elas e partiu, então, para a observação
das construções mais antigas. Notou que sempre havia
um elemento presente naquelas que, por alguma razão aparentemente
inexplicável, o atraiam.
Eram as construções cobertas de heras, unhas-de-gato,
trepadeiras ou apenas rodeadas de toda sorte de vegetação.
Realmente o homem das grandes cidades está, geralmente,
apartado das formas ditas biologicamente vivas. A água
que jorra em nossas torneiras é uma água biologicamente
morta, o ar é altamente poluído, os mananciais hídricos...e
a gente acaba chegando na Ecologia.
Até 1976, eu havia tentado, inutilmente, implantar (redundância?)
dois projetos que agora podem ser tranqüilamente rotulados
de exemplos concretos de Biotectura. O primeiro deles, em 1975,
uma residência que não pode ser feita por falta de
verba dos clientes e o segundo, uma agência bancária,
por falta de visão do Banco.
Acontece que os primeiros clientes reorganizaram-se economicamente
e, dois anos depois, vieram me procurar.
Mais um ano de espera, pois o cliente, que já então
possuía o projeto, optou por construí-la com recursos
próprios. Finalmente, em meados de 1978, foi iniciada a
construção que durou cerca de um ano.
Não é preciso dizer que houve momentos de dúvida
e desânimo por parte dos clientes, sem falar dos "conselhos
amigos" de vizinhos e familiares para parar com essa "loucura",
"querida, onde você está com a cabeça",
"essa casa não vai funcionar", "em que revista
você viu uma casa desse jeito?", por aí...
A proprietária, que já gostava de plantas, atualmente
mora envolvida por jardins e está feliz como nunca.
Só mais um detalhe:
Ela se chama Dna. FLORA.
Pitanga
do Amparo
25/03/1980