PITANGA
do AMPARO -
a
construção magazine 1988
pitanga
do amparo architecture, art, publishing house, doctoral research,
interiors, biotecture, architectural theories, russian art, o
grande experimento, suprematism, constructivism, arquitetura
construtivista and Pitanga do Amparo A+A.
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Fragmentos de um discurso arquitetônico
"Arquitetura
não é Arte. Arquitetura é Arquitetura."
Assim
como essa frase pretende sintetizar uma postura de valorização
da arquitetura enquanto arte usando o artifício filosófico
da afirmação pela negação, ou, mais
didaticamente, recupera o status de arte, enquanto manifestação
magistral da cultura humanística, para a arquitetura que
historicamente sempre esteve ao lado da pintura, escultura, música,
literatura e o desenho (uma vez que é desnecessário
tentar artistizar a própria arte) o que se observa em relação
a ela, em alguns casos, é a postura mercadológico-consumista
de tentar compensar verborragicamente com afirmações
do tipo: "É uma verdadeira obra de arte", meros
amontoados organizados de tijolos, concreto, vidros, telhas e
granitos polidos.
No
caso específico da minha residência de "inferno"
do Morumbi (seis favelados famintos, quatro horas da manhã,
banco 24 horas, nove mil cruzados, meia dúzia de objetos
pessoais, três revólveres me desejando boa sorte,
150 mil, aluga-se para fins comerciais) a síntese é
o dó central.
Ingredientes:
suprematismo russo, minimalismo alemão, arte povera italiana,
pouca grana e muita criatividade brasileira, somados a 15 anos
de experimentações de linguagens arquitetônicas
precursoras e pioneiras, ou seja, high-tech em 1974 com a agência
Rio/Cancela do Banco Itaú, biotectura em1975 com a residência
Célio Vieira e o chamado estilo clean de decoração
em 1982 com os escritórios da Huis-Clos Confecções.
Pitanga
do Amparo
Numa
visão mais politizada, o arquiteto Pitanga do Amparo entende
que em São Paulo a arquitetura moderna se desenvolveu pelo
caminho da exacerbação do uso do concreto, através
da escola do Artigas. Para ele, essa arquitetura brutalista, como
passou a ser chamada devido à linguagem visual e estética
que propõe, tem mais a ver com um regime de força
do que com democracia. "Aliás - acrescenta - os pressupostos
dessa arquitetura são de imposição mesmo,
de conceito em cima do profissional. Ela não é de
direita, mas stalinista, que é a direita da esquerda. E
foi contra tudo isso que nós, jovens arquitetos, nos insurgimos."
A Construção São Paulo - n.° 2097 - 18-04-88
página 9
Pitanga:
anos de experimentações
Já,
Pitanga do Amparo foi buscar nas cores um dos condicionantes mais
marcantes de seu trabalho. E na procura da sua verdade ideológica
e para fugir de "projetos que estão pura e simplesmente
copiando procedimentos, jeitões e maneirismos de outras
arquiteturas, em especial a americana", Pitanga tentou homenagear,
no projeto de sua casa, os formalistas russos, os holandeses dos
anos 30 e os suíços considerados cardo-modernos.
Sua
residência, que tem na fachada principal uma parede cega
em tijolo aparente, possui uma espécie de gaveta que se
abre como entrada e uma única janela quadrada no alto.
O traço superior da fachada apresenta o que ele chama de
minimalismo, ou seja, o desenho que é a síntese
de formas do pós-modernismo: a escada de três degraus.
Atrás da casa, construída em 1982, Amparo fez janelas
que se voltam para o sol nascente e usou a biotectura - técnica
de usar o jardim e as plantas como material de construção
- que ele diz ter introduzido no Brasil. As lajes são todas
ajardinadas como forma de proteção térmica,
ajudando a evitar infiltrações.
Mas
o que mais empolga no seu projeto são as cores primárias
que utiliza. Pitanga se autodenomina um dos precursores do high-tech
no Brasil e pintou de azul as tubulações aparentes
de água e de amarelo as elétricas. As janelas são
vermelhas, cobertas por persianas, e o piso interno todo branco.
Um sonho que acabou em poucos meses, com a entrada de assaltantes
durante a noite, seus favelados vizinhos. "Eu sou o retrato
do Brasil de hoje", diz o arquiteto, que levou cinco anos
para realizar o projeto e atualmente reside em seu estúdio,
no Paraíso. "Fatos como esse só demonstram
- conclui - que a arquitetura residencial está comprometida
de forma irreversível."
página 12
Conceição
Melo
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